Rumo à Quinta de Curvos
Rumamos a noroeste. O destino é a Quinta de Curvos (www.quintadecurvos.pt), uma propriedade que, a julgar pelas fotos do site, é deslumbrante. O que nos trouxe aqui não é só isso: os vinhos têm chamado a atenção e exigia-se uma verificação. O contacto foi feito com o enólogo consultor António Sousa, que nos deu as indicações para lá chegar. A quinta fica ao pé de Forjães, a meio caminho entre Esposende e Viana do Castelo.
A entrada da quinta faz-se por um portão generoso e só por aqui. Tudo o resto está murado a grande altura e só se percebe algo pela vista de grandes árvores no interior. Uma alameda rodeada de frondosas árvores conduz-nos a uma casa térrea de arquitectura única, difícil até de definir, quase a meio caminho entre a casa senhorial inglesa e um castelo romano. Ou seja, não tem nada a ver com o Minho. Mas terá o seu encanto.
Somos recebidos por José Fonseca, um dos dois proprietários, de 77 anos. O outro é o irmão, Jaime, que se junta a nós pouco depois. Jaime tem 85 anos. Jovem ainda, portanto, e com um dinamismo invejável. São eles que estão na génese dos vinhos deste quinta. Mas vejamos a história.
Um jardim paradisíaco
Corria o ano de 1975 e os irmãos Jaime e José tinham retornado de Angola, onde as perturbações políticas os obrigaram a deixar para trás uma indústria de confecções. Regressados à terra, Braga, os dois irmãos decidiram comprar esta quinta. O proprietário era um súbdito britânico- ex-ministro inglês- que se assustou com a ebulição social em Portugal na altura, decidindo mudar de ares. Antes de rumar à África do Sul chegou a acordo com os dois irmãos e passou-lhes a propriedade, já em 1976.
Ora, este inglês era um apaixonado pela botânica e foi este amor que o levou, aliás, a adquirir a Quinta de Curvos. De facto, a propriedade alberga um dos mais bonitos jardins românticos que existem em Portugal, combinando uma enorme profusão de espécies vegetais, incluindo mais de 400 espécies de camélias, com lindíssimos recantos mandados construir há menos de uma século pelo penúltimo proprietário, um abastado luso-brasileiro. Não falta sequer um magnífico lago. A quinta não possui visitas guiadas mas pedindo com jeitinho será possível visitar o jardim.
Vinha nova, nova vida
Uma parte da propriedade está reservada para vinha, que, em primeira versão, foi plantada pelos irmãos há umas décadas depois de uma experiência com árvores de fruto. A família já engarrafada há cerca de 20 anos e a produção ia, em grande parte, para a restauração local.
A gestão do dia-a-dia passou então para as mãos de Miguel Fonseca, filho de José e economista de formação. Estava na altura ausente no Japão, promovendo os vinhos da Quinta de Curvos. Mas é sobretudo dele a mudança na estratégia da vinha e do vinho, desde a imagem à comercialização.
Uma das decisões fundamentais foi a replantação de grande parte da vinha, há 4 ou 5 anos, com o moderno sistemas de cordão. A casa explora ainda vinhas locais. No total são cerca de 30 hectares e é com todas estas uvas que António Sousa compõe os lotes. Ou seja, nesta fase é um projecto muito recente, com apenas 3 anos.
Um terroir "Limite"
Este ano, as uvas vão ser vinificadas na adega da quinta, que sofreu ampliações. Antes usavam também uma adega em Barcelos, alugada. José Fonseca diz-nos que "a ideias é fazer uma adega nova, mas não será para este ano."
Foi ainda Miguel quem decidiu introduzir os vinhos varietais, que têm tido grande sucesso, especialmente no estrangeiro. "É um produto que tem mais-valias", acrescenta António Sousa: "Dá também a conhecer a região e as suas castas, como o Loureiro, o Avesso ou o Alvarinho." Os vinhos têm a marca Curvos e, para além dos varietais e do Superior, com perfis definidos, o Colheita Seleccionada serve o papel de vinho ´mistério`: o lote é diferente todos os anos, consoante o (bom) comportamento das castas.
António Sousa tem na equipa duas pessoas para gerir a parte vitícola, área especialmente importante considerando que o mar fica a cerca de 6 quilómetros de distância: "Estamos que numa zona limite para a viticultura." O problema nem sequer é a humanidade, mas as lentas maturações. Mas, ainda assim, o técnico confessou-se muito surpreendido com a qualidade das uvas que tem conseguido: "Em anos mais quentes, os Loureiros e Alvarinhos ficam muito aromáticos", considera António Sousa. O Loureiro é a casta predominante, com mais de 60% da área. Alvarinho e Vinhão vêm a seguir.
Com 3 anos nesta quinta, António Sousa está satisfeito: "Têm sido anos de grande crescimento e a nossa realidade actual aponta para as 350.000 garrafas (eram 100.000 há poucos anos)." Se o trabalho de Miguel Fonseca tem sido fundamental na exportação, o dos proprietários na venda local não é menor. Como diz António Sousa, com um sorriso, com "170 anos de experiência acumulada, acaba, por ser grandes motores de venda de vinho na região.